Os corvos de Yueh
- Skull Editora
- 25 de nov. de 2019
- 5 min de leitura
Autora de Nictofilia fala sobre processo criativo, planos para o futuro e conta um pouco de como foi criar o mundo de Asas Escuras .
Nessa semana começaram as vendas de Asas Escuras - Nictofilia - livro 1, da autora Yueh Fernandes.
Conheça o livro: A vida pacata da ceifeira Lorna Helgardh vira de ponta cabeça quando ela resgata um corvo em apuros do ataque de uma terrível strix, criaturas de procedência misteriosa que se alimentam de almas humanas. Com as suas feridas curadas, a ave revela-se portadora de um excitante segredo, que põe as convicções de Lorna à prova e coloca em cheque os sentimentos dela por Timotei, seu namorado humano.

Agora, vamos a entrevista
SKULL - Diga-nos um pouco sobre seu processo de escrita, quais são suas inspirações?
YUEH _ Eu sou movida por insatisfação. Acho que esse é o primeiro passo para dar origem a uma narrativa. Sempre escrevo quando tem algo me incomodando. Como uma pulga atrás da minha orelha ou um grilo dentro do meu sapato. Uma cigarra no meio da noite. No caso da história da Lorna, eu vinha sendo assombrada por muitos fantasmas à época, Nictofilia é a minha sombra projetada quando a luz veio de encontro a mim. Encontrei conforto no silêncio da noite e ela me presenteou com uma bela história. A grande inspiração para Nictofilia foi as coisas da vida que não compreendemos, os sentimentos que nos acometem e com os quais não sabemos lidar. O estranhamento. E isso inclui a Morte, amores paralelos, medos, inseguranças, o desejo de fazer parte de algo, abraçar a própria natureza.
SKULL - Nictofilia, uma palavra pouco conhecida nos dias de hoje. Você pesquisou muito sobre o significado desta palavra?
YUEH _ Asas Escuras deveria ter se chamado Nictofilia desde o início, mas dividi o livro em dois e batizei as duas partes com nomes diferentes, porque estava ficando grande demais e porque acho que pouca gente tem paciência hoje em dia para ler um livro com mais de 200 páginas. Nictofilia veio até mim, eu tinha essa palavra guardada aqui em algum lugar e sabia exatamente o que ela significava, então, quando estava perto de terminar o primeiro livro, o que seria a metade do livro original, eu percebi como encaixava perfeitamente, casava com a ideia do que eu queria passar. A ideia central da história. Lorna sofre de Nictofilia, não foi acometida por uma paixão comum pela noite, mas uma paixão arrebatadora por Nyx. Que aqui funciona meio que como um aforismo para a Noite propriamente dita.
SKULL - Timotei, Lorna, Ceifeiros e strix, como foi criar o mundo de Asas Escuras?
YUEH _ A maioria dos personagens de Nictofilia são baseados em pessoas reais. A Ethel, por exemplo, teve a personalidade praticamente usurpada da minha melhor amiga. Anúbis foi inspirado em um grande trambiqueiro que cruzou meu caminho alguns anos atrás. Perséfone, que ainda não aparece no primeiro livro, é a síntese de uma grande amiga em aparência e personalidade. No final do livro, também, há uma homenagem para a minha falecida avó em uma cena numa capela. A criação destes personagens foi uma maneira que encontrei de homenagear as pessoas que amo, e denunciar aqueles que foram perfeitos cretinos, também. Não deixa de ser uma homenagem. Nova Estrasburgo é a minha homenagem à Belo Horizonte, a cidade onde vivo já há cinco anos. Do restante, não posso dar muitos detalhes porque complica pro meu lado (risos). O universo de Nictofilia foi se auto-construindo conforme a história avançava, eu optei por pegar velhos mitos e recriá-los à moda da casa com uma pitada de crítica social. As Strix, por exemplo, tem origem no mito romano da Estirge, a criatura noturna que suga sangue... é um mundo que eu estou descobrindo junto com o leitor. Ainda não sei muita coisa sobre ele, também, eu só sei o que sei. E o que vocês ainda vão descobrir quando lerem. Compartilhem comigo o que descobrirem! Vou adorar.
SKULL - Tem planos para a novos títulos neste mesmo gênero de fantasia urbana?
YUEH _ O universo de Nictofilia foi planejado para terminar no terceiro ato, é outra história, com outras personagens, outra protagonista, mas que conta com elementos e personagens dos dois primeiros livros e fecha o ciclo da história deste mundo em que houve um desbalance e a Morte se tornou soberana. No mais, há duas prequelas nas quais eu gostaria de trabalhar dentro deste universo, mas ainda não tenho certeza. São personagens dos quais não quero me despedir tão cedo, mas também não quero exigir muito deles. Tenho planos que não sei exatamente se encaixam no gênero, uma novela cyberpunk foi esboçada, tenho uma verdadeira odisseia no espaço engavetada, uma história de assassinato sem um pingo de fantasismo, e também há O Ciclo do Sonho no Wattpad que ainda está para ser fechado. O que vier, virá.
SKULL - Como você enxerga a literatura fantástica hoje?
YUEH _ Eu acho que jovens escritores têm criado mundos maravilhosos, e por sermos jovens, estamos estabelecendo laços com as gerações mais novas porque falamos todos a mesma língua, temos os mesmos receios e as mesmas vontades, os mesmos medos e os mesmos desejos, e isso vem se refletindo na produção atual. Acho que a literatura fantástica hoje é a voz de uma geração insatisfeita com o que nos foi ofertado. É uma maneira de protestar. Quando viemos a este mundo, nos foram feitas promessas incríveis para um futuro brilhante e bem sucedido, contanto que estudássemos. Estudamos, então. Conquistamos nossos diplomas depois de 14 exaustivos anos em sala de aula, deixamos a academia para encarar um mundo doente e hostil, um mercado de trabalho saturado, salários muito abaixo da média, um mercado imobiliário inflacionado, nosso ar, nossa água e nossa comida contaminadas, investimentos em educação e cultura retidos, represados e cortados, nada mais parece tão promissor quanto era há 10, 20 anos atrás… acho que a fantasia é a nossa válvula de escape. Não é à toa que filmes de super herói tem estourado bilheteria ao redor do globo. A realidade é terrível e nossa geração está buscando conforto na fantasia. E eu não vejo isso como um problema, acho que é o pontapé inicial para uma transformação.
SKULL - Este não é seu primeiro livro, o que mudou em sua escrita e na sua vida de um livro para outro?
YUEH _ Eu produzi muita coisa da minha adolescência para cá. Quando comecei a escrever, eu só queria me divertir e divertir as outras pessoas. O que eu escrevia era mais voltado para a comédia, era uma fantasia doce e colorida, cheia de bruxas, fadas, duendes e muita trapalhada. Meu primeiro livro, escrito aos 14 anos, era sobre as peripécias de uma família de bruxas em uma mansão mágica. Era engraçado, inocente, minhas principais inspirações na época eram Castelo Rá-Tim-Bum, Os Muppets e Harry Potter. Mas, como a deusa Ereshkigal, eu atendi ao chamado das trevas e desci às sombras e dancei com elas. Tive experiências positivas e negativas, transformadoras, que me marcaram muito nos últimos 6 anos e minha maneira de lidar com elas foi escrevendo, se refletiu no meu trabalho. Toda a dor passou por mim e escoou pelos meus dedos dando forma à belas monstruosidades, Nictofilia é uma delas. Ainda gosto de Castelo Rá-Tim-Bum e Os Muppets, mas não tanto assim de Harry Potter. Minhas principais inspirações hoje são Mary Shelley, Anne Rice, Stephen King, Junji Ito, H.P. Lovecraft. Phillip Pullman transformou minha vida com His Dark Materials. Quando li A Bússola de Ouro pela primeira vez, eu soube que queria ser escritora. E por incrível que pareça, Meg Cabbot me ajudou muito a encontrar minha voz também. Tudo isso contribuiu para que eu me tornasse o que sou hoje.

A Autora:
Yueh Fernandes é uma escritora amapaense sediada em Belo Horizonte, formada em Jornalismo pelo Centro Universitário UNA, de Minas Gerais. Yueh Fernandes é, também, uma assombração.
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