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LEIA O PRIMEIRO CAPÍTULO DE "NÃO PERTURBE - 2 - HOTEL PLATINA"

  • Foto do escritor: Skull Editora
    Skull Editora
  • 1 de jun.
  • 17 min de leitura

Tradução: Helena Mussoi

Jon Athan retorna em seu segundo livro no Brasil com mais palhaços, mais tensão e mortes extremamente bem descritas. Não Perturbe - Hotel Platina está em pré-venda no link no final do capítulo;


Capítulo Um

Uma Chegada Inesperada

 

— Estamos atrasados. — Rob Farrell resmungou.

Com uma bolsa de viagem sobre o ombro, ele seguiu Dustin Pearson no estacionamento de vários andares. Numa letra amarela em negrito, o número  “1” estava pintado nas colunas a seu redor. Outros sinais os guiavam em direção à saída, às escadas e aos elevadores.

Sem olhar para trás, Dustin disse:  

— Eu sei, cara. Só me segue.

Ele forçou um sorriso e acenou para um grupo de funcionários fazendo hora ao lado dos elevadores. Eles acenaram de volta, embora sem simular alegria, como ele fizera. Acima dos elevadores, havia uma placa: Seja bem— vindo ao Hotel Platina!

Rob alertou:

 — Não chama atenção pra si mesmo.

 — Tô agindo naturalmente. — Dustin murmurou através dos dentes cerrados.

 — Para de acenar e continua andando, idiota!

 — Tá, que seja!

Os dois seguiram rumo à saída. Eles vestiam o mesmo uniforme: camisas e calças azul-marinho. Na parte de trás das camisas, escrita em letras maiúsculas, havia uma palavra: SEGURANÇA. Dustin tinha o cabelo raspado, ao passo que uma abundância de cabelos louros sedosos cobriam a cabeça de Rob. Ambos os homens eram robustos, embora Dustin aparentasse carregar alguns quilos extra no abdômen.

Assim que saíram da garagem, as conversas e as risadas incessantes na Las Vegas Strip lhes invadiram os ouvidos. Eles escutaram todas as emoções emitidas pelo corpo humano – desde lamentos inebriados a olhos brilhando de animação, da raiva destrutiva à felicidade plena. Já era noite, mas as luzes da Strip estavam tão fortes que alguns bêbados poderiam até pensar que era de manhã.

Os homens atravessaram até o ponto de entrada dos carros e subiram um lance de escadas.

Dustin escaneou seu crachá – que funcionava tanto como cartão de identificação quanto como chave – no leitor de cartões na parede ao lado das portas duplas. As portas se destrancaram com um clique satisfatório. Eles as abriram e entraram num corredor. Havia um detector de metais e um aparelho de Raio X a sua frente.

Outro segurança esperava do outro lado do detector de metais, um crachá de identificação acoplado à camisa. Ao lado de uma foto dele, o nome no crachá dizia Edwin Martin.

Dustin acenou para ele e disse:

— E aí, Ed?

 — Tudo indo. — Edwin respondeu.  — E com você?

— Também estou indo. Noite muito agitada?

— Pra mim? Que nada! Mas o York está um pé no saco de novo, então fica longe dele. Juro por Deus que aquele cara vive tomando pau no cu, então quer sempre foder com a gente também.

Dustin esvaziou os bolsos e tirou o cinto. Ele jogou todos os pertences num cesto de plástico.

Ele perguntou:

— Qual é a dele?

— A mesma merda de sempre. Procedimento aqui, protocolo ali... Tô te falando, precisamos de mais dois ou três gerentes por turno.

— A gente acabou de abrir. A gerência não deve achar...

Antes que pudesse passar pelo detector de metais, Dustin sentiu Rob lhe dando um puxão atrás da camisa. Dustin enterrou os dentes no lábio inferior, e seu semblante dizia algo na linha de: Ai, merda, foi mal! Ele deu um passo para o lado e acenou para Rob.

Ele disse:

— Quase me esqueci do nosso amigo. Edwin, este é o Rob. Ele é novo aqui.

— Novo? — Edwin repetiu. Ele olhou para um monitor no seu lado do detector de metais e prosseguiu: — Rob de quê?

— Farrell. — Rob respondeu.

Ele colocou sua bolsa de viagem na esteira do Raio X. Então, tal qual Dustin, esvaziou os bolsos, tirou o cinto e pôs seus pertences num cesto de plástico.

Ele se aproximou do detector de metais e perguntou:

— Posso passar?

— Você não está no turno de hoje. Deixa eu ver seu crachá.

— Ainda não tenho, é pra pegar hoje.

Edwin verificou o monitor do escâner e viu o que pareciam ser rolos de fita isolante e várias abraçadeiras de plástico.

— O que é isto? — perguntou. — O que tem aí na bolsa?

— Estoque pra sala de equipamentos. Ordem Número 3019. Você já deveria saber de tudo isso.

Dustin perguntou:

— Qual foi a do interrogatório, Ed? Já disse que ele é novo aqui. –

— Só um segundo.— Edwin retrucou. Ele pressionou o botão para falar pelo radinho e disse:  — Mike, tem um ‘Rob Farrell’ no Portão de Segurança 1. Ele não tem crachá e não está na lista da equipe. O que eu faço? Câmbio.

Ninguém respondeu.

Após quinze segundos de silêncio, ele mudou o canal no walkie talkie, apertou o botão de novo e perguntou:

— Alguém sabe a localização do York? Câmbio.

O aparelho chiou, e uma mulher disse:  — Reunião no centro de comando. Câmbio.

— Merda.

— Já posso ir? — Rob perguntou.

Edwin o examinou de cima abaixo. Nada sobre sua aparição lhe pareceu suspeito. Afinal, ele estava vestindo o uniforme. Ed também confiava em Dustin. Eles se aproximaram durante o treinamento. A bolsa o preocupava, mas a explicação de Rob fazia sentido. O hotel abrira recentemente, então todos ainda estavam se ajeitando.

Ele disse:

— Pode, vai.

O detector de metais apitou três vezes quando Rob passou por ele. Edwin utilizou um detector portátil para escanear seu corpo de cima a baixo. Nada.

— Tem alguma coisa nos bolsos? — Edwin perguntou.

Rob esvaziou os bolsos e respondeu:

— Não, senhor.

— Então vamos tentar de novo.

— Claro.

Rob atravessou o detector de metais, que apitou três vezes de novo. Ele se virou, aguardou cinco segundos e atravessou com as mãos para cima. Mais três apitos. Edwin o escaneou com o detector portátil e o apalpou, mas não encontrou nada.

Dustin disse:

— Anda logo, Ed! Tenho mais o que fazer!

Ed dobrou o indicador, como se estivesse ordenando: “Vem cá”. O detector de metais disparou quando Dustin passou por ele.

— Também não tenho nada no bolso. — Dustin alegou e deu de ombros.

Irritado, Edwin baixou a cabeça e esfregou os olhos. Ele não tivera um treinamento adequado para lidar com equipamentos defeituosos.

Ele suspirou e concluiu:

— Podem ir.

Dustin e Rob juntaram seus pertences. Rob levou na mão a bolsa de viagem e saiu andando na frente.

Ao se afastarem, Edwin chamou:

— Dustin! Ei, Dustin! — Ao que Dustin olhou para trás, Edwin apontou o dedo para ele e alertou: — Não arruma problema pra mim, cara! Fui claro?

— Já saquei, irmão. Até mais tarde.

— Ele liberou, mas atrasou a gente. — Rob murmurou enquanto eles caminhavam. — Te encontro depois de pegar o resto das nossas ‘ferramentas’. Entra na sala e manda ver.

— Ei, calma aí! Do que você está falando? Era pra você ficar comigo. E se me pegarem? E se ligarem pra...

— Não entra em pânico! Entendeu? Aconteça o que acontecer, não entra em pânico. Já vou chegar aí. Lembra que ele está contando com a gente. 

Dustin parou de andar. Ele observou Rob quando ele virou à esquerda no final do corredor e desapareceu pela esquina. Outros funcionários  – especialmente seguranças  – transitavam pelos corredores de serviço.

— É, eu consigo. — Dustin murmurou ao seguir andando, mal erguendo os pés a cada passo.  — Só tenho que seguir o plano. Ele está contando com a gente – comigo.

***

Após atravessar mais um par de portas duplas, Dustin se viu no centro de comando do cassino. No outro lado do recinto, monitores cobriam a parede. Conforme instruído por Norman York, o gerente de segurança, eles mostravam filmagens ao vivo de várias áreas do local, inclusive o andar do cassino, o lobby, os restaurantes, as lojas, a piscina, a garagem e alguns corredores de serviço.

Havia três colunas e três fileiras de mesas de escritório na sala, dois monitores embutido em dois telefones sobre cada uma. Duas passarelas estreitas separavam as colunas. Supervisores – vestidos de terno – andavam por ali e se esgueiravam por detrás das mesas, vigiando os funcionários atentamente, como se fossem presidiários trabalhando na cadeia. Enquanto isso, os empregados sentados às mesas ficavam de olho nos jogadores enquanto se comunicavam com os guardas que vagavam pelo resto do hotel.

Dustin se dirigiu a uma mesa no lado esquerdo da sala. Ele sorriu para sua colega, uma mulher de trinta e poucos anos chamada Felicia White, antes de se sentar e logar no computador. Ele viu Norman conversando com um supervisor em frente à parede de monitores. Norman, que beirava os cinquenta, era um homem de semblante severo com cabelos grisalhos e um bigode grosso. Ele não reparou no atraso de Dustin.

Ao que um supervisor passou atrás dele, Dustin disse:

— Desculpa pelo atraso. Um cara estava travando...

— Agora, não. — Interrompeu o supervisor.

Ele seguiu andando e falou através do rádio em sua mão, mas suas palavras eram ininteligíveis. Ele está falando de mim, Dustin pensou. Na tentativa de agir com naturalidade, ele verificou duas câmeras de segurança enquanto aguardava outro supervisor passar por sua mesa. Assim que o caminho ficou livre, tirou um pen-drive do bolso de trás e o conectou ao computador.

Ele vasculhou mais alguns vídeos de segurança e atendeu à ligação de um guarda no cassino enquanto um vírus advindo do pen-drive infectava a rede de segurança.

Nesse meio tempo, Rob entrou num vestiário. Já que havia outro homem no recinto, ele foi até o armário de Dustin – 3215 – e fingiu que era o seu. Ele pegou o casaco de Dustin e o vestiu, então arrumou o cabelo em frente a um espelho. Ele afastou os cabelos da testa, desarrumou-os e os tirou dali de novo – o tempo estava passando.

O outro homem saiu cinco minutos mais tarde.

Como um siri na praia, Rob se movimentou de lado em frente aos armários. Ele leu os números de cada um mentalmente. Não é aquele, nem este, aqui também não, pensou. Seguiu para o canto e entrou em outro corredor, passando o olho em cada armário, até que seu olhar se fixou num número.

2125.

Ele puxou a maçaneta do armário. Conforme o esperado, a porta se abriu. Dentro, havia um uniforme dobrado, um par de sapatos, uma bolsa de academia e um par de fones de ouvido. Ele enfiou as mãos nos bolsos das calças, e, a seguir, olhou por debaixo do uniforme – nada. Abriu a bolsa de academia e vasculhou as roupas suadas – nada.

— Droga… — sussurrou.

Ele pegou o par de tênis grandes, mas parou antes de olhar por debaixo deles: estavam estranhamente pesados. Então ele encontrou um revólver com capacidade para cinco tiros escondido em cada pé.

Com um sorriso estampado no rosto, Rob disse:

–Agora, sim.

Ele prendeu os revólveres na parte de trás de seu cinto e voltou ao armário de Dustin. Ele tirou um walkie talkie de sua bolsa.

Após mudar a frequência, ele pressionou o botão de falar e disse:

— Lena, se prepara ali na porta. Chegou a hora.

No centro de comando, um homem se levantou do assento e disse:

— York, está meio lento aqui.

Na frente da sala, York se voltou para os empregados e respondeu:

— Seja específico. Sr. Sinclair.

— Parece que o sistema está falhando, senhor. Estamos com dificuldade de mudar de uma câmera para a outra.

— Como assim o ‘sistema está falhando’?

De outra coluna de mesas, uma mulher reportou:

— Senhor, estamos tendo o mesmo problema aqui.

Norman caminhou até a fileira a sua frente e verificou os computadores. Alguns deles estavam travando, ao passo que outros tinham congelado completamente. Dustin saboreou as expressões estarrecidas dos colegas, fazendo força para não sorrir. O vírus estava funcionando de acordo com o plano.

— É para reiniciar? — Perguntou um homem.

Norman respondeu:

— Todo mundo levanta e se afasta da baia! Agora! — Ele acenou para um supervisor e completou: — Chama o pessoal do departamento técnico. Temos que partir do princípio de que a rede está infectada.

Num piscar de olhos, a vontade de Dustin de sorrir desapareceu. Ele não esperava que Norman sacasse o plano tão cedo. Seus olhos e lábios se contraíram; suor escorreu por seu rosto e fez cócegas em sua pele. Ele olhou para as portas duplas. A ideia de sair correndo lhe invadiu a mente ao ponto de parecer que um caroço aparecera em seu cérebro.

Norman instruiu:

— Avisem os líderes das equipes no térreo. Vamos ter que reorganizar tudo. — Ele voltou a atenção aos demais funcionários e disse: — Vocês não me ouviram? Deixem suas coisas aí e saiam das baias. Não toquem em nada até esclarecermos tudo. Vamos...

— Senhor, estão bloqueando nosso sinal. — O supervisor interrompeu.

Um homem se levantou de sua mesa e disse:

— Os alarmes também não estão funcionando.

Norman respondeu:

— Chama a polícia. Se não conseguir ligar daqui, vai lá pra fora e...

Dustin ficou de pé e gritou:

— Todo mundo parado!

Ele tirou o celular do bolso e levantou a camisa, revelando as bombas tubo presas a seu abdômen – um colete suicida. O restante dos funcionários reagiu com arfadas e gritos. Na baia ao lado, uma mulher caiu da cadeira ao tentar escapar. A maior parte dos empregados se encolheu por debaixo das mesas e correu para os cantos, o pânico tomando conta de suas mentes e fazendo-os se esquecerem de tudo o que aprenderam no treinamento. Derrick Banks, um dos supervisores, cambaleou em direção às portas duplas.

— Se abrir essa porta, vou explodir o prédio todo! — Dustin berrou, as palavras saindo apressadamente de sua boca.

Para! — Norman disse com severidade ao erguer sua mão ao supervisor.

Derrick congelou com os dedos agarrados às maçanetas. Ele as segurou com mais força e pensou seriamente em fugir. Então pensou em sua família, nas famílias de seus colegas de trabalho, nas famílias hospedadas naquela parte do hotel. Ele se recusou a pôr em xeque a segurança de todos e se afastou da porta com as mãos para cima.

Alguns funcionários suspiraram de alívio. Outros continuaram chorando baixo e gemendo embaixo de suas escrivaninhas. Eles tentaram chamar a polícia, mas o sinal de seus celulares também fora interrompido.

Com um ar de pouco caso, Norman perguntou:

— Sr. Pearson, o que você está fazendo?

Dustin disse:

— Fica calmo, e tudo vai dar certo. Não queremos machucar ninguém, mas, se precisar, vamos machucar.

Queremos?

Com a bolsa de viagem sobre o ombro, Rob se aproximou do Portão de Segurança 1. Ao ouvir seus passos, Edwin se virou para ele.

— Já pegou seu crachá? — Indagou.

— Mais do que isso. — Rob disse.

Ele puxou o revólver do cinto e o apontou ao rosto de Edwin. A boca da arma estava a milímetros de seu nariz.

Edwin levantou as mãos, tremendo, e gaguejou:

— C-calma!

— Abre a porta.

— Q-quê?

— Mãos pra cima; vira; passa pelo detector de metais; abre as portas. Molezinha, Eddie, molezinha.

— T-tá bem. Tu-tudo bem. Estou calmo, cara. Se acalma também, tá? Relaxa.

Edwin obedeceu. Rob o seguiu, o revólver pressionado contra a nuca dele. O detector de metais apitou de novo. Edwin abriu as portas e viu uma jovem, Lena McKee, esperando do lado de fora. Com uma bolsa de viagem a seu lado, ela ficou lá com as mãos atrás das costas e rodando o pé. Seu cabelo estava preso em duas longas marias-chiquinhas  – uma rosa e uma azul. Ela usava uma blusa branca, short jeans, meias arrastão rasgadas e botas.

Numa voz suave, infantil, ela disse:

— E o senhor, não vai me ajudar com a bolsa?

Edwin fitou a bolsa, depois Lena, depois Rob.

— E aí? — Rob perguntou.

— Sim, claro. — Edwin disse. — Como quiser.

Ao pegar a bolsa, ele viu de relance o carro estacionado ao lado. Ele não viu nem ouviu outros funcionários por perto e seguiu Lena para dentro do prédio. Rob entregou a ela um revólver e trancou as portas atrás de si. O detector de metais apitou quando eles passaram  – foram nove apitos estridentes.

Rob ordenou:

— Vamos pro centro de comando.

— Parado! — Dustin gritou quando as portas se abriram.

Edwin cambaleou para dentro da sala. Rob e Lena o seguiram. Mais uma vez, Rob trancou as portas atrás deles.

Lena disse:

— Relaxa, Peitudo, é só a gente.

— Não me chama assim.

— Ahn? Pensei que era assim que você queria que a gente te chamasse agora.

Dustin a ignorou e retrucou:

— É Pontudo, tá? Pontudo, não Peitudo.

De pé atrás dele, Rob encostou a boca do revólver contra a têmpora direita de Edwin e ameaçou:

— Todo mundo quieto! Ninguém vai se machucar se vocês obedecerem. — Transtornados, os empregados gemiam, trêmulos. Rob prosseguiu: — Quero todos aqui à vista. Vamos arrastar vocês se for preciso. Só pra te amarrar. Se vocês deixarem, vamos deixar todo mundo em paz pelo resto da noite. Se reagirem, vamos atirar em vocês na hora. Simples assim.

Norman se manifestou:

— Eu sou o gerente de segurança, Norman York. Se vocês querem dinheiro, não precisam de mais de trinta reféns. Deixem eles irem, e eu fico aqui. Sou todo...

— Não se mexe, Sr. York. Vamos conversar em breve. Primeiro, temos que tomar o controle da situação. Não queremos que seus funcionários façam um movimento errado e matem todo mundo, né?

— Eu quero. — Lena retrucou, sorrindo.

Dustin ralhou:

— Cala a boca!

 — Cala a boca você!

Rob perguntou:

— Estamos entendidos, Sr. York?

Norman não tinha muitas alternativas. Todos os funcionários no centro de comando estavam desarmados. A maior parte dos guardas no restante do resort também estavam. Apenas alguns policiais fora do horário de serviço no cassino carregavam armas, mas eles não estavam cientes da situação. Embora os presentes estivessem em maior número do que os intrusos, ele sabia que seria impossível rendê-los, fugir dos tiros ou sobreviver a uma explosão.

Norman cedeu:

— Estamos.

— Ótimo. — Respondeu Rob. Ele chutou uma das bolsas para a frente com o pé e continuou:  — Então bora começar.

***

Com os cotovelos pressionados uns contra os outros, os funcionários permaneceram sentados sob a parede coberta de monitores. Estavam tão próximos que mal podiam se mover. Seus braços estavam presos atrás de suas costas com as abraçadeiras, a sua frente, seus tornozelos estavam atados. Tiras de fita isolante também cobriam suas bocas. Eles formavam um coro de gemidos e grunhidos abafados.

Norman estava entre eles e Rob. Dustin e Lena haviam reiniciado o sistema de segurança. Eles atenderam a ligações do pessoal do hotel e de outros seguranças enquanto os mantinham longe do centro de comando. Lena estava sentada com as pernas para cima numa escrivaninha. Ela aplicou maquiagem branca com um pincel no rosto ao passo que se comunicava com um fone de ouvido.

Norman disse:

— Vocês não vão escapar dessa. A qualquer segundo, vão tentar abrir a porta. Quando virem que está trancada, quando não conseguirem falar comigo – eu disse comigo, e não com seu lacaio –, vão perceber que algo está errado, e a polícia vai se envolver na história. E sabem do que mais? Eles não vão demorar a chegar, pois já estão no andar do cassino.

— Eu sei. — Rob respondeu. — Estamos rastreando eles.

— Rastreando... Qual é exatamente o plano aqui? Vão trocar tiros com os policiais? Vão explodir o hotel para fazer um protesto social de merda?

— Vamos nos apossar do hotel. De tudo.

Norman protestou:

— Vocês acham que é fácil assim? Olha só pra você! Porra, olha para os seus “parceiros”! — Ele apontou para Lena e prosseguiu: — Ela parece a porra de uma palhaça!

Lena revirou os olhos e retrucou:

— É porque eu sou uma palhaça, imbecil!

— Seja lá o que for isto, não vai funcionar. Se vocês não negociarem comigo, vão ter que falar com a polícia. Eu sou durão. Pode perguntar ali ao seu amiguinho Pearson. Mas a polícia de Las Vegas é mais ainda. Não vai cair no seu joguinho.

Com um sorriso trêmulo, Dustin disse:

— Rob, está na hora. Já estão detonando tudo no Motel Ace, em Reno, em Nova York... em todo lado. Está acontecendo de verdade.

— Hora de quê? — Norman perguntou.

Lena respondeu:

Até que enfim! Não temos mais que bancar os terroristas de “Duro de Matar”. Sabe, estou surpresa por vocês nem terem imitado sotaques russos.

Dustin replicou:

— Eles são alemães em ‘Duro de Matar’. Bom, Hans Gruber é alemão. E quem fez o papel dele foi Alan Rickman, que era britânico. Eu...

Rob levantou a mão, pedindo silêncio com o gesto. Ele manteve os olhos fixados nos de Norman.

Monotônico, disse:

— Eu também sou palhaço, Sr. York, e gosto de brincadeiras.

— Como é? — Norman retrucou.

— Quer saber como meus irmãos e irmãs me chamam? Espinhoso. Espinhoso, o Palhaço. Quer saber por quê?

— Pelo amor de Deus, não vem me dizer que isto é uma piada doentia para a sua bosta de rede social!

— É por causa dos meus espinhos.

Norman apontou o dedo para ele e disse:

— Eu juro que você vai...

Sua voz enfraqueceu, e seus olhos se arregalaram ao que Rob mexeu no próprio cabelo. Sua peruca loura descolou da cabeça. Sob a peruca, havia um moicano de espinhos de metal saindo de seu couro cabeludo – da entrada do cabelo até o osso occipital na parte de trás do crânio.

Rob olhou para baixo e cravou a cabeça no rosto de Norman. Os espinhos perfuraram seu queixo, seus lábios, suas gengivas e suas narinas. O metal pontiagudo espetou suas bochechas também. Atordoado pela cabeçada, Norman tombou para trás, mas seus lábios ainda estavam presos aos espinhos. Eles se esticaram para longe do rosto, como se ele os estivesse franzindo num beijo exagerado. Os espinhos se soltaram, e as feridas se abriram.

Ele caiu contra a parede de monitores. Sangue espirrou de seu nariz, tingindo os cabelos cinzentos de seu bigode de vermelho. O sangue caiu em cascata sobre seus dentes, encheu-lhe a boca e esguichou dos furos nas bochechas e no queixo como água esguichando de um cano esburacado. Os empregados abaixo dele berraram e soluçaram, incapazes de escapar do sangue jorrando sobre eles.

Antes que Norman pudesse se localizar, Rob correu para frente e lhe deu outra cabeçada. A parte de trás da cabeça de Norman bateu no monitor atrás de si. Os espinhos cortaram seu septo nasal, seus lábios e sua bochecha direita. Sua cabeça girou, suas pernas sacudiram. Rob agarrou Norman pela jaqueta a fim de impedir que ele caísse. Ele levou a cabeça para trás e a empurrou para frente para mais um golpe brutal.

Com a terceira cabeçada, o moicano de Rob rasgou o lado esquerdo do rosto de Norman. Seu lábio superior se soltou parcialmente. Seu bigode sanguinolento balançava, pendurado acima de sua boca. Suas gengivas superiores, mutiladas pelos espinhos, estavam visíveis na ferida horrenda. Um espinho perfurou sua órbita ocular esquerda, cortando a pálpebra inferior e ralando o olho ao escorregar ali por baixo.

Norman desmaiou. Lena deu pulinhos de alegria numa mesa enquanto os reféns se contorciam pelo chão e se encolhiam nos cantos da sala.

Aos risos, Rob deu mais uma série de cabeçadas, de modo a despedaçar o rosto de Norman. Seu lábio superior fora arrancado. A carne sanguinolenta e cabeluda foi parar entre os pés dos dois. As bochechas de Norman foram rasgadas dos canto da boca até as orelhas – um longo e torto sorriso de Coringa. Dentes quebrados caíram de suas gengivas e saíram de sua boca numa onda de sangue. Seu nariz estava destruído, molenga como um tomate esmagado. Uma das cabeçadas deslocara sua mandíbula e deixara uma marca profunda em seu queixo.

Rob parou no décimo terceiro golpe. Sangue cobria seu rosto como suor no rosto de um atleta após ter corrido uma maratona. Sua testa brilhava em vermelho. Ele havia se machucado durante a surra, mas continuava a sorrir e dar risada. Ele largou o casaco de Norman, deixando seu corpo rígido cair no chão. Os demais funcionários choravam: não conseguiam reconhecer seu chefe. Parecia que a cabeça dele fora comida por um animal selvagem.

Sem fôlego, Rob ordenou:

— Lena... Mata eles... Mata todo mundo.

 — Com todo o prazer! — Lena gritou, saltitando, ao ficar de pé.

Os reféns gritaram mais alto ao que a palhaça se aproximou. Ela parou ao lado de Felicia White, que se arrastara até a passarela entre as baias. Lena se agachou a seu lado e puxou um estilete do bolso. Ele fez sons de clique enquanto a lâmina deslizava para fora.

Clique...

Clique...

Clique.

Felicia se virou e balançou a cabeça para Lena. Embora a fita tivesse reduzido sua voz a um misto de sons abafados, a mensagem estava clara: “Não! Para com isso!

— É o quê? Desculpa, não entendi nada do que você falou. — Lena disse, a voz em tom de falsa preocupação. — Ah, já sei! Vou te ajudar te dando outra boca! Genial, né?

Ela montou no peito de Felicia, seus joelhos alinhados com os ombros dela, e, então, empurrou sua cabeça para baixo com a mão livre para firmá-la no chão. Ela enfiou a lâmina no pescoço da refém, alguns centímetros abaixo de sua orelha direita. O estilete entrou com facilidade. Para Felicia, aquilo era como levar um beliscão forte. Ela começou a entrar em pânico quando lhe veio uma sensação quente no pescoço.

Lena movimentou a lâmina para sua direita e começou a serrar ao se deparar com o primeiro conjunto de veias jugulares. Ela sabia que teria de cortar a vítima profundamente a fim de atingir a jugular interna. E conseguiu. Sangue jorrou do lado direito do pescoço de Felicia, o jato diminuindo a cada esguicho. Ela se retorceu abaixo de sua agressora, incapaz de se livrar das abraçadeiras ou da fita isolante.

A lâmina deslizou através de seu pescoço e cortou sua laringe. O sangue encheu sua boca e despejou em sua traqueia.

Lena começou a serrar o pescoço novamente, empurrando e puxando a lâmina numa tentativa de cortar as outras veias jugulares. Ela não acertou a jugular interna, mas nem percebeu. Tampouco importava. Felicia perdera sangue suficiente para ter a morte garantida. Ele formou uma poça a seu redor e espirrou na parede ao lado. A lâmina parou abaixo da orelha esquerda da mulher.

— Espera, acho que estou ouvindo alguma coisa. — Lena disse.

Os olhos de Felicia se reviraram para cima enquanto ela sofria movimentos espasmódicos sob a palhaça. Sons de gorgolejo escaparam pelo buraco fino em seu pescoço.

Lena se agachou e virou a cabeça para o lado. Ela aproximou o ouvido da ferida de Felicia, somo se o pescoço dela fosse uma concha.

Ela disse:

— É, estou ouvindo algo. Soa como… como… — Ela se sentou, sorriu e exclamou: — Soa como o circo! Agora eu me pergunto se dá para ouvir circos em todos os seus pescoços. Acho que só tem um jeito de descobrir.

Os demais reféns choravam e tentavam fugir enquanto Lena se aproximava deles com o estilete ensanguentado.

Enquanto via o caos se instaurar, Rob segurou um rádio perto da boca e perguntou:

–Torto, tá me ouvindo?

Uma voz grave e áspera respondeu:

— Tô. Vai.

— Estamos prontos. Diz pro chefe que o hotel está pronto pra ele.


 

 
 
 

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