ENTREVISTANDO ANDREW OLIVEIRA
- Gabriel Cordeiro
- 9 de ago. de 2020
- 14 min de leitura
O autor fenomenal de Vazio da Forma nos conta mais sobre seu livro!

E voltamos. Com mais uma entrevista e com mais um convidado! Sentiram a nossa falta? Não? Mas… Ué? Até quando sustentarão essa mentira? Admitam que vocês gostam de chegar aqui todo Domingo e ver que tem um bate-papo novo. Pois amamos e devem amar também. Não aceitamos menos.
Brincadeiras de lado, o autor convidado de hoje é Andrew Oliveira. Simpático, talentoso… Esse menino é de ouro. Bora conhecer mais sobre essa estrela?
SKULL BLOG: Fale um pouco sobre você. (Onde você nasceu, sua idade…)
ANDREW: Bem, cheguei aos 26 recentemente. Eu sou natural de Macapá (AP), vivi no Norte até completar o ensino médio e, realizando um sonho de infância, saí de minha terra natal com 17 anos e fui tentar a vida em Belo Horizonte (MG). Quando criança, o que eu podia fazer era visitar as cidades grandes com filmes, séries e livros. Até com músicas. Imaginava essa tal Metrópole cheia de prédios colossais, geladíssima, azul-acinzentada, tão grande que eu poderia me perder com facilidade. Mais tarde, essa imaginação se tornaria um cenário recorrente nas minhas histórias e na minha própria vida.
SKULL BLOG: Qual a sua formação? (Ensino Médio, Curso Técnico…)
ANDREW: Sou formado em Cinema e Audiovisual já tem alguns anos. Costumo trabalhar com fotografia e filmagem. Nunca fiz nenhum curso relacionado à escrita, sempre estudei livros sozinho, desde que me entendo por gente. Mas acredito que seja algo que a maioria de nós, que nos atemos ao ofício da escrita, faz.
SKULL BLOG: Qual foi seu primeiro contato com a Literatura? Como começou a escrever?
ANDREW: Olha só, eu fui o último da minha sala a aprender a ler e escrever, tinha muita dificuldade para entender os símbolos, como eles se encaixavam, as coisas na cabeça bagunçavam. Fiz umas aulas de reforço por algumas semanas e, assim que alcancei a turma, não quis mais parar. Havia muita poesia em casa, Vinícius de Moraes, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Mario Quintana. Hazia Ziraldo, havia O Pequeno Príncipe. Além da MPB da velha guarda, que meu pai escuta muito. Ele me explicava o significado das letras, dos versos. Me falou tudo sobre a Ditadura Militar só com as músicas da época. Então meu primeiro contato foi a poesia e a MPB. Eu queria escrever coisas que pudessem ter a mesma beleza do que eu lia. É claro, eu também consumia muitos gibis da turma da Mônica, revista Recreio, HQs colecionáveis do Tio Patinhas e Pato Donald. Variava constantemente entre a literatura adulta e a que entretinha a minha idade.
Houve um dever de casa em que tínhamos que escrever um poema/dedicatória pro dia dos pais. Quando eu apresentei o meu, a professora me acusou de ter tirado o poema de um livro adulto. Me levou à diretoria e chamou minha mãe, que chegou com as provas de que a escrita era minha, era real. Acho que foi o primeiro embate, e às vezes penso que comecei a escrever porque me senti subestimado naquele dia.
SKULL BLOG: Sempre escreveu o gênero que trabalha atualmente? (Ex: Começou com Romance e agora está voltado para o Terror)
ANDREW: Bem, eu comecei com a poesia e também fazia histórias em quadrinhos. Elaborava umas histórias sobre insetos gigantes atacando cidades, causando calamidades, e organizava tudo em folhas A4. Mas me parecia inacabado, não conseguia exprimir o suficiente do que eu precisava, em relação ao que eu imaginava. Então comecei a fazer historinhas, tentando criar detalhes, falar de bairros, subúrbios, personagens e características físicas. Mas daí eu já não queria saber de insetos gigantes, eu estava focado em criar coisas dramáticas, muito influenciado pelos filmes que eu assistia, sobretudo os de Pedro Almodóvar - um dos meus primeiros contatos com o Cinema Queer, o que me impactou e me fez sentir menos solitário.
Mas poesia sempre foi a determinação maior de minha vida. Quando adolescente, lancei um livro de poemas na minha terra natal intitulado Santuário. Eu não costumo falar muito dele, é um livro cheio de experimentações infantis e adolescentes, mas muita gente na minha cidade me conhece por esse livro. Quando me mudei pra Belo Horizonte, o meu notebook queimou e perdi vários livros de poesia que escrevi após o Santuário. Me causou uma frustração imensa, não tinha esses livros salvos em nenhum outro lugar. Daí deixei a poesia de lado, por um tempo, e me foquei nas crônicas, contos e novelinhas que eu dividia em capítulos num antigo blog que eu tinha. O Frey, protagonista de meu romance de estreia, Vazio da Forma, veio de uma dessas histórias, que fiz em 2009 e passei muitos anos escrevendo do ponto de vista dele. É o meu filho mais antigo.
SKULL BLOG: A escrita é bem mais complicada do que apenas sentar em frente ao computador e despejar ideias, ela muitas vezes é recheada de planejamentos e estratégias. Sendo assim, como funciona o seu processo para criar um novo livro?
ANDREW: Eu não costumo planejar quase nada quando vou criar um livro novo, então eu me arrisco bastante nesse aspecto. É até irresponsável, pra não dizer o mínimo. Eu só parto de algumas perguntas iniciais como: de onde o meu personagem principal vem, que relação ele tem com a sua família, quem ele ama, quais são suas enfermidades da alma e do corpo. Raramente anoto as respostas, guardo tudo na cabeça. E são coisas que, inclusive, eu descubro no decorrer dos capítulos. Não tenho uma fórmula certa, eu dou uma voz, uma cor de pele e uma dor que atravesse e desmonte o meu protagonista. A partir disso ele vai me mostrando o que ele quer me contar e, se ele vai conseguir se remontar ou não já parte de sua jornada. Quando vou criar algo eu anulo completamente a minha identidade e dou vazão às latências de quem narra. Esqueço de mim, não sou mais eu, quem passa a narrar é essa outra figura que me conta a despeito de si, então enquanto estou escrevendo eu também estou lendo pela primeira vez, é sempre um processo muito impactante, porque eu mesmo me surpreendo com os caminhos que meus protagonistas costumam tomar. Em Vazio da Forma eu achava que sabia como a história terminaria, mas lá pelo capítulo 3 ou 4 eu comecei a perceber que não. E tinha que confiar no Frey, para onde ele estava me levando.
Agora, se paro pra planejar demais, o que vai acontecer em cada capítulo, de que forma vai acabar, o meu narrador parece se ofender com a minha tentativa de dominância e foge, e a história some da minha cabeça. Sem dramas. Isso raramente acontece hoje em dia, mas já fui abandonado por muitos personagens…
SKULL EDITORA: Vazio da Forma foi lançado pela Editora Skull, poderia contar um pouquinho mais sobre a história?
ANDREW: Vazio da Forma conta a trajetória de Frey, um pintor nascido na Praia de Pérola, uma terra idílica flanqueada por seres aquáticos, espíritos e entidades. Por já ter vivenciado muitas tragédias, é uma terra onde seus nativos nutrem uma fé muito inabalável pelas suas deusas regentes: a Senhora Despedida, a Deusa Concha e a Filha Maior. Frey, no tempo presente, já vive numa outra cidade chamada Porto das Oliveiras, casou-se com Jacinto e adotaram uma menina chamada Lírio, cuja origem é um grande mistério. Frey, no início da história, está sem essa fé, encontra-se completamente depressivo, um transtorno que muito lhe atormentou na adolescência e que, mesmo após ele ter se empenhado em criar uma família e um futuro com Jacinto, volta de maneira quase simultânea com a Sombra, uma entidade que lhe persegue há muito tempo, e toma a imagem de seus traumas para lhe atormentar.
Frey é como uma bomba-relógio, guardou tantas coisas por tantos anos que a cabeça, uma vez exausta de todos esses buracos escondidos pela cortina de uma nova vida, passa a se rachar, e essas rachaduras se manifestam na sua relação com seu marido, Jacinto, que também tem um passado obscuro, e com sua filha, que no meio deste momento de tensões, desaparece.
SKULL BLOG: Quanto tempo levou para escrevê-lo?
ANDREW: Três meses e uma semana. Eu não fazia outra coisa na vida. Acordava já com os pensamentos de Frey na cabeça. Aliás, tive muitos sonhos dele mesmo me guiando, me mostrando a Praia de Pérola e as coisas que aconteceram lá. Foi um processo lindo, delicado e também assustador. Quando terminava alguns capítulos mais densos, eu tinha que me lembrar de que Frey era Frey e a vida dele não era a minha. Mas a gente se assemelhava em relação a alguns traumas, alguns vícios, algumas crises.
SKULL BLOG: Cite autores (ou obras) que te influenciam na sua carreira.
ANDREW: Bom, já citei os de poesia, e adiciono aí também Paul Auster, Fernando Pessoa como Álvaro de Campos, e Sophia de Mello Breyner. De literatura fantástica veio Philip Pullman com a Trilogia Fronteiras do Universo, Anne Rice com A Vida das Bruxas Mayfair, Kafka com A Metamorfose e O Processo. Nas distopias me encantei por George Orwell e seu 1984, Aldous Huxley com Admirável Mundo Novo. Na literatura Queer foi com Adolfo Caminha, Oscar Wilde, JT Leroy, Kay MacCauley, Caio Fernando Abreu. O realismo mágico mudou a minha vida com Cem Anos de Solidão, do Gabriel García Márquez, e A Casa dos Espíritos de Isabel Allende. No romance dramático, Letícia Wierzchowski, cujo livro, Sal, foi uma forte influência pra Vazio da Forma. José Saramago com seu Ensaio Sobre a Cegueira. Lionel Shriver com Precisamos Falar Sobre o Kevin. Conceição Evaristo com seu Olhos d’Água. Virgínia Woolf com As Ondas e Mrs. Dalloway. E Elena Ferrante - que tem sido a maior influência na minha vida nesse momento. Sua narrativa na Tetralogia Napolitana me fez criar novas perspectivas na minha literatura, assim como em suas outras obras. Ela sabe tratar de brutalidades emocionais com a brutalidade narrativa que elas merecem. Eu me reconheço nessa violência emocional. E me vejo muito em suas mulheres, sobretudo na Olga, de Dias de Abandono.
SKULL BLOG: Como lida com o bloqueio criativo?
ANDREW: Bem, o último grande bloqueio que passei foi quando parei com o cigarro, isso já tem um ano. Eu não conseguia mais prescindir o ato de fumar do ato de escrever. Eu sempre tinha que fazer as duas coisas, elas existiam em conjunto. Fumar me “ajudava” a refletir. E quando decidi largar, fiquei quase um semestre sem escrever nada, abandonei um livro no meio porque não sabia mais que tipo de autor eu era sem a presença constante do cigarro entre os parágrafos. Como eu lidei com isso? Eu não lidei. Segui com a minha vida, me destituí das minhas obrigações como autor e, além de tudo, eu tinha acabado de perder a minha avó materna e não pude estar presente no seu funeral. A fatalidade tomou totalmente a minha cabeça e não havia espaço pra pensar em outras coisas a não ser em tentar manter minha rotina sem enlouquecer enquanto tentava entender meu próprio luto. Viajei a trabalho, também viajei pra me aventurar, fiz o curta-metragem de Vazio da Forma em Jericoacoara (CE), voltei pra São Paulo, consagrei Ayahuasca na minha casa de congregação (o Chamado da Floresta) e no retorno eu me encontrava profunda e irremediavelmente apaixonado por alguém, precisava colocar toda aquela paixão que eu sentia em algum lugar já que a distância não me permitia que eu o fizesse pessoalmente. O luto ajudou a paixão a se expressar com mais vivacidade e a paixão ajudou o luto a sair do meu peito com mais amorosidade, foi uma simbiose simultaneamente portentosa e muito dolorida. Então, depois de cinco meses sem criar nada, escrevi um livro novo chamado Luno e Solar porque tinha perdido uma das pessoas mais importantes da minha vida e porque estava apaixonado, vinte e sete capítulos sem tragar um único cigarro nos intervalos. Às vezes, só seguir em frente e se permitir sentir as coisas é a única resposta a um bloqueio criativo. Tudo passa.
SKULL BLOG: Possui planos para o futuro? (Outros lançamentos, projetos literários)
ANDREW: Vazio da Forma compõe uma série que eu chamo mentalmente de Trilogia da Desaparição (que talvez se torne uma tetralogia). Em cada romance um personagem importante desaparece e o personagem que resta detém a responsabilidade de lhes contar a história. São histórias fechadas, cada uma com uma mitologia muito própria, e nenhum livro vai se interligar, exceto à menção ou a presença de cenários, como a Metrópole, que está na maioria das minhas histórias. Em Vazio da Forma é um lugar que você só conhece por citações, em Luno e Solar, o próximo livro da série, a Metrópole é o epicentro narrativo, onde tudo acontece.
Mas qualquer um desses livros poderá ser lido em qualquer ordem, nenhum arco narrativo vai interferir no outro, nenhum personagem de um livro vai aparecer no segundo ou no terceiro e vice-versa. A única coisa que interliga essa série é a temática de um desaparecimento, podendo ser algo literal, metafórico ou uma morte. Talvez eu passe a vida inteira escrevendo sobre sumiços, quem sabe? Tenho uma facilidade imensa em abordar as várias formas de desaparecer, porque eu mesmo já desapareci dentro de mim inúmeras vezes.
SKULL BLOG: O que te faz escrever? Diga sua motivação.
ANDREW: Pergunta super ampla, né?
Eu posso dizer que foi aquele momento da infância ou a influência de meu irmão mais velho - ele escrevia muito e eu queria fazer igual a ele. Ou que foram traumas e abusos que passei no mundo lá fora. Ou o meu histórico com vício, alcoolismo e sexo desenfreado. Ou minha extensa lista de arrependimentos, uma em que não fui boa pessoa para muita gente, então escrevia para sanar as culpas, a minha maneira de dizer “eu sinto muito por isso”. Uma quantidade infinita de pulsões me faz escrever, eu sou cheio de ramificações que adentram o mais afundo da terra até encontrar esse núcleo, esse segredo no qual eu tento, com as minhas raízes, sequestrar. Eu quero que esse segredo precioso seja meu.
E, também, eu escrevo para entender os anos fantasmagóricos da minha vida, através dos meus personagens, que têm sua própria voz. A depressão me fazia acreditar que eu era um espectro, um ser etéreo, nem lá nem cá, que vagava por entre as pessoas. Eu tinha essa dissociação extracorpórea que caminhou comigo por muito tempo. Era como se eu me visse o tempo todo fora do meu corpo, me assistindo de longe cometer pequenos suicídios diários, até que eu chegasse a um fim definitivo. Por sorte, por milagre, por ter muita gente e muitos guias espirituais na minha vida que não desistiram de mim, não cheguei. Hoje escrevo sobre essas obscuridades com medidas de controle e responsabilidade sendo um autor que decide falar de depressão, drogas, abusos físicos e psicológicos e variações obscuras da cabeça. São assuntos que você precisa ter muita cautela para escrever, mais ainda, são assuntos que eu pessoalmente acho que você só vai saber escrever de uma maneira autêntica se você passou por isso. Do contrário, vai sempre soar como um mero artifício ou, no máximo, com esforço, vai soar como “um autor que decidiu escrever sobre esse tema, então ele se organizou para isso”. Não me entenda mal, não estou dizendo que você precise passar por situações extremas na vida para abordá-las em suas histórias. Mas, quem viveu na pele as questões que falei anteriormente consegue localizar no mesmo instante a verdade por trás de cada palavra, e eu falo isso mais como leitor do que como autor.
Eu sempre vou escrever sobre as nossas partes mais feias, aquelas que todo mundo sente vergonha de mostrar, eu as amo, e isso é tudo. Nossas próprias experiências passadas são uma fonte inesgotável de inspirações, é só não ter medo de encará-las.
SKULL BLOG: Qual foi a coisa mais difícil que já escreveu?
ANDREW: O primeiro romance que escrevi, se chamava Elope e demorei seis anos para concluir. Conta a história de vários personagens que se interligam de maneira direta ou indireta na Metrópole, variando pontos de vista e linhas temporais. As mesmas temáticas que eu abordaria em Vazio da Forma já se encontravam em Elope, sobretudo porque também havia um protagonista pintor, chamado Belial, e uma criança desaparecida. Eu passei esses anos escrevendo e reescrevendo este mesmo livro, era um aprisionamento sem nenhuma chance de redenção. Quando comecei a passar por problemas com alcoolismo, cocaína e, consequentemente a depressão, que apenas crescia no seu jeito severo, eu sentia que não conseguia mais diferenciar o que era livro e o que era eu. Tinha perdido meu senso de identidade, vivia dentro das obscuridades dos personagens e isso intensificava as minhas. Então, para saber descrever de maneira exata o uso excessivo de substâncias dos personagens, eu fazia o mesmo. Para saber de suas crises, eu chegava a abismos mentais irreparáveis, avaliando a profundidade de cada inferno. Para descrever como eles se autodestruíam com sexo inconsequente, eu também repetia a mesma coisa. Ou talvez eu fazia só para que eu pudesse testar se eu sairia vivo ou não dessas situações. E como eu saía, eu registrava tudo no livro. A história se tornou um dicionário de suicídios, cheio de palavras e gestos que não significavam nada. O esvaziamento total de sentido é um espaço sem começo nem fim, sem entrada ou saída. Não tem um porquê. Não é. E, ainda assim, ali você se encontra, e se estabelece nesse não-existir, nesse não-estar. Você se despersonaliza. A sua silhueta não tem uma definição exata, é como um rastro de uma projeção. Você se desmonta, se dissolve e se perde nesse baque surdo, sem ter mais certeza do próprio corpo, dos próprios olhos. Consegue imaginar esse desespero? Para mim, o mundo era assim todos os dias.
Lembro de uma vez, depois de ficar quase três dias cheirando direto, em que fui assoar o nariz no banheiro e fiquei um tempo olhando o espelho, tentando procurar aonde que eu estava, porque não conseguia mais me ver em mim. Olhei o papel higiênico nas mãos, cheio de sangue e cocaína. Era isso o que eu tinha me tornado, um pedaço de papel manchado. Quando finalmente terminei Elope – que do inglês significa Fugir, Escapar –, eu já estava completamente esvaziado, minha saúde debilitada e tudo ao meu redor parecia deformado. Do fundo do poço, o único caminho que restava era a subida, foi quando busquei me resgatar através da espiritualidade pelos meses seguintes. Um ano depois eu escrevi Vazio da Forma. Estava intrigado com o fato de que o mundo não era um mesclado de substâncias cinzentas no qual eu chafurdava desde a infância. Tinha cor.
SKULL BLOG: Como lida com as críticas? Negativas e positivas sobre seu trabalho.
ANDREW: Eu não costumo ver “crítica” como algo bom. Para mim, existem opiniões construtivas, conselhos, indicações e referências que você pode dar para ajudar alguém. A crítica, pra mim, é uma palavra que sempre parece tender mais ao lado oposto, se concentra no que, no ponto de vista de quem está usando de seu significado, considera ruim, ou vê falhas no seu trabalho. Acho que existem maneiras nobres e maneiras cretinas de abordar as coisas.
Mas respondendo à sua pergunta, eu já ouvi opiniões maravilhosas (que você pode chamar de crítica positiva, se essa é a sua percepção das coisas), alguns conselhos muito valiosos que até hoje guardo com carinho na minha caixinha mental porque me auxiliaram e me ‘professoraram’ a expandir minhas capacidades criativas. E já ouvi ‘críticas’ de pessoas que pareciam, em muitos aspectos, estarem na verdade usando do artifício da crítica para refletirem em como elas se viam, no fundo, e o que elas não gostavam em seu próprio trabalho e nelas próprias. Uma crítica negativa só me parece algo como alguém gritando para um espelho.
Então hoje em dia eu só abstraio, com o tempo é fácil de localizar e absorver só o que te impulsiona pra frente, ignorar certos barulhos - certos ecos de gente que nem sabe qual é o seu próprio tom. Quando você reconhece o valor do seu próprio trabalho, quando você se reconhece no que faz, você concentra suas preocupações em questões mais importantes, seu ouvido filtra só o que te faz crescer.
SKULL BLOG: E por último… Deixe um conselho para novos autores.
ANDREW: Leia de tudo. Leia poesia, prosa, romance, ficção, não-ficção. Leia biografias. Leia muitos livros de terror. Leia clássicos brasileiros e estrangeiros. Leia do realismo mágico à alta fantasia, do drama histórico ao Young Adult. Leia livros LGBTQS. Leia autoras mulheres, por favor, leia MUITAS autoras mulheres, a maior parte do que aprendi veio, sobretudo, delas. Leia filosofia, política, preocupe-se com as notícias, preocupe-se com o que acontece com o nosso mundo, com a nossa geração, ouça a voz da sua própria geração e a reverbere. Não leia só um gênero, não faça só um gênero o seu favorito, faça de todos os seus favoritos. Um escritor precisa se interessar e pesquisar de tudo até se encontrar. Não só com livros, mas com séries, filmes e músicas também, pesquise diretores e artistas além do circuito mainstream, tem coisas muito mais intrigantes do que o que chega fácil nas nossas redes sociais e em streamings. Absorva de todas as fontes possíveis até encontrar sua própria voz. Com o tempo você consegue lapidar alguma coisa muito valiosa e torná-la apenas sua.
Gostaria de deixar um recado para seus leitores? Esse é o seu momento!
Espero que curtam a jornada em Vazio da Forma. Ele compõe o começo de uma jornada sobre este mundo que criei com muito carinho, repleto de espiritualidade, mitologia, realismo mágico e, bem, desaparecimentos. Serão leituras densas, mas garanto que serão muito recompensadoras.
Essa foi a entrevista de hoje, pessoal! Pelo que percebemos, Andrew é um autor cheio de histórias para contar e não perde oportunidade para nos fazer mais íntimos de seus projetos. Agora, que já conhecem o autor, bora conhecer mais da obra?

Sinopse:
Frey, um depressivo pintor atormentado por uma entidade chamada A Sombra, precisa encarar o desaparecimento de sua filha Lírio, lhe catapultando numa imersão de memórias enquanto tenta manter as rédeas do seu casamento com Jacinto, e iniciando além da busca pela filha perdida, uma maneira de recuperar a sua fé nas Três Irmãs, as deusas matriarcais de sua terra natal.
Se interessou pelo livro? Pode encontrá-lo no site da Editora Skull clicando aqui!

Você também pode encontrar o autor(a) em suas redes sociais:
Instagram:
@cherrymayfair
@deirdremayfair

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