A ausência de formadores de opinião na atualidade.
- Skull Editora
- 25 de set. de 2019
- 3 min de leitura
Fernando Luiz aborda a importância do escritor se impor na era digital

Nos tempos de Gabriel Garcia Márquez onde escritores, jornalistas e outros membros da classe das letras, eram responsáveis por apontar e criticar a sociedade e estimular a literatura, mostrando uma opinião ácida impondo-se em várias questões sociais. Em tempos sombrios onde a literatura é fortemente ameaçada, quando escritores se preocupam com seu texto de forma tão fria e esquecem de que ele não é seu único trabalho, o mundo perdeu as opiniões críticas, as palavras de ordem e até o pouco de conteúdo que tinha.
É sabido que toda mudança vem do interesse, sem interesse nada pode ser influenciado ou modificado. Posso afirmar que nossa geração de escritores canônicos, famosos por excelência e muito bem reconhecidos, não se interessam em formar opinião?
Sem desmerecer quem publica seu livro e chega ao topo do sucesso, mas a publicação é por mera e simples satisfação própria, não existe mais o escritor que além de ter seu “sonho” concretizado, se mantém ativo na sociedade através de sua opinião publicada, falta interesse em se impor.
A contraponto, vemos youtubers se tornando influenciadores, mas de uma influencia tão rasa, tão caricata que os faz erguer multidões de fãs, seguidores e likes tão vazios de opinião que nem comentar seus vídeos o fazem. E as editoras transformam estes influenciadores em escritores, encomendando livros através de Ghost-Whriters, tornando físico o que era visto somente no digital. Será esse nosso futuro? Antes os escritores eram contestadores, vistos como aqueles que levavam a critica a sociedade ou a realidade em que viviam de forma séria, hoje, o caricato e por vezes ridículo influencia mais do que um artigo ou livro.
A opinião fácil de um vídeo de cinco minutos ou mais é assimilada de forma tão rápida que torna um Deus aquele que “se impõe” falta tempo para escrever e por isso decidiu falar? Um texto era visto como uma voz calada na imensidão do barulho social, em suas maquinas de escrever, os reais influenciadores, faziam cair reinos através de suas palavras escritas. Hoje erguem impérios através de vídeos vazios.
O Influenciador é influenciável, recebe tópicos a serem ditos com sua voz ácida pelo whatssapp, seus expectadores anseiam por suas palavras tal qual o beato deseja ouvir a missa. É necessário ver o vídeo, para quê texto se posso vê-lo e ouvi-lo, mas será que entendo?
Existe qualidade no limbo profundo da internet, navegar e não naufragar é a regra básica, mas é arriscado seguir cegamente os Deuses autoproclamados influencer ou Trumblr’s da vida, uma opinião de cinco minutos não vale mais que um texto que lhe fará pensar por dias. Uma critica social ao mundo atual tão deturpado ao qual vivemos não virá de um vídeo de cinco minutos, mesmo sendo essa, só a opinião do interlocutor, não se resume o caos. Mas, como disse Mario Vargas Llosa, em seu livro a Civilização do espetáculo:
“Quando uma cultura relega o exercício de pensar ao desvão das coisas fora de moda e substitui ideias por imagens, os produtos literários e artísticos são promovidos, aceitos ou rejeitados pelas técnicas publicitárias e pelos reflexos condicionados de um público que carece de defesas intelectuais e sensíveis para detectar os contrabandos e as extorsões de que é vítima.”
A ausência de quem saiba se expor através de um texto e a proliferação de quem usa a imagem para promover um abalo na mente dos outros, torna qualquer manifestação extremamente vazia. Onde estão aqueles que perdem o sono pensando em causar um impacto tão grande com duas ou três páginas em meio aqueles que preferem botar a cara no sol, achando que sua fala de cinco minutos trará efeito? Embora sabemos que o que buscam são likes!
Comments